sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Procuração em causa própria

Acordei um dia qualquer e me dei conta que não faço mais nada para mim e por mim, exclusivamente. Tudo tem propósitos elevados, projetados num futuro que eu não sei quando chega. Depois que passar você vai ver como vai ser bom.


Então eu sigo me alimentando mal, porque um dia eu vou comer salada todos os dias, com azeite temperado. Sigo parada, porque um dia vai dar tempo de voltar a dançar (e, milagrosamente, eu não vou ter perdido o meu alongamento). Sigo dormindo pouco, porque um dia vou trabalhar só alguns dias na semana e não vou mais precisar dos cochilos de 20 minutos. Sigo sem desenhar, porque uma pilha de textos por ler me espera. Sigo com saudades porque um dia todo mundo vai estar reunido, nós vamos marcar.


Sigo vivendo por procuração, outorgada a uma versão pálida de mim.


Sigo acreditando que, quando chegar esse dia, eu não vou inventar outras metas.

Do Valor do Silêncio

Existe um processualista italiano, Piero Calamandrei, que, ao contar sobre sua experiência na advocacia, diz que pode perceber no juiz a melhor das manifestações de empatia - um sorriso - em uma sustentação oral. E assim ele teve certeza de que iria ganhar a causa. O que ele dizia? "Renuncio à palavra".

Talvez isso valha para quase todas as manifestações orais da vida. Se o adolescente rebelde não teimasse em retrucar aquilo que sua mãe diz, talvez fosse mais respeitado (e ouvido) por ela. E se os grevistas se acorrentassem ao banco e aos postes do centro da cidade em silêncio sepulcral, eu me compadeceria mais de sua causa, porque tanto silêncio sempre fala alguma coisa.


Principalmente quando se abdica dessas rimas fracas.