quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Desabrochares

Já vieram várias vezes me perguntar o porquê de eu escrever e me expor. Apontam para o perigo emocional (ou mesmo físico) de fazê-lo, e me chamaram até de exibicionista.

Eu confesso que não me importo. Tenho fases de precisar do auxílio da escrita para organizar melhor o pensamento e entender mais o que acontece ao redor de mim. Também para dar boas risadas de mim mesma. Sem pretensões megalômanas. E nada do que eu escrevo me faz sentir medo dos outros. O que eu digo e deixo que os outros vejam não vai além do que eu diria numa mesa de bar (afinal, como já dizia o ditado latino, in vino veritas).

Em algumas épocas (como o longo mês que se passou), eu não consigo materializar o que eu vejo em papel, e me sinto aprisionada, emudecida. Mas, vá lá, isso passa, sem deixar danos.

Inspirada pelo texto da Maria, estou de volta.
*

"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..."
(Clarice Lispector)

domingo, 16 de agosto de 2009

"Dói nos cotovelos..."



Ciúme: sm (lat vulg *zelumen) 1 Inquietação mental causada por suspeita ou receio de rivalidade no amor ou em outra aspiração. 2 Vigilância ansiosa ou suspeitosa nascida dessa inquietação”.

Sim, me sinto patética por ter sentido essa famigerada inquietação. Sempre fui do tipo de pessoa que ria dessa história de ciúme, achava que era uma coisa muito mais inventada que real. Quando alguma amiga iniciava uma discussão a respeito do tema era sempre eu que dava a “senhora lição de moral”, dizendo que esse é o tipo da coisa que não devemos dar tanto valor e tal.

Muito bem, na teoria isso funciona perfeitamente, é poético, controlado e racional. Porém um belo dia o tal discurso se desmancha quando chega à hora da prática. Sim “o feitiço virou contra o feiticeiro”. Você está tendo uma crise “daquelas” de ciúme.

No começo você não entende muito bem o que é, mas depois a dor se torna quase física. Aos poucos, a “ficha vai caindo” e enfim é o momento de constatar, que aquele monstro – até poucos dias aprisionado e contestado – é verdadeiro, e está ali, na sua frente. Surge aquele alerta vermelho, acompanhado da pergunta angustiante: “O que fazer agora?”.

As respostas mais óbvias são: sucumbir ou tentar - às vezes um pouco em vão – abstrair e – por que não – relaxar. E, quem sabe, seja até possível tratar a situação como só mais uma daquelas banais do dia-a-dia, que somos obrigados a conviver – para essa é necessário certo autocontrole, que eu, não tenho.

Agora, fingir que esse sentimento não existe e nunca existiu é impossível. Afinal, “o ciúme dói nos cotovelos, na raiz dos cabelos, gela a sola dos pés”.