segunda-feira, 7 de setembro de 2009

E agora está de bem...

A couraça vinha presente, junto com um monte defesas ensaiadíssimas para qualquer circunstância desgradável. "Você diz isso porque não imagina..." O salto alto era metafórico, e o lápis de olho foi deixado de lado para evitar constrangimentos. Orgulho, orgulho, orgulho. Mesmo que ela soubesse que aquele orgulho ia ser pisoteado, ela precisava dele para se proteger, pelo menos antes do desenrolar das coisas.

Quando ela escutou a voz subindo as escadas, não sabia se o que ela queria era sumir, chorar de medo ou dar uma gargalhada nervosa. Resolveu, em alguns segundos, não fazer nenhuma das três coisas; sorte a dela. Quando ele entrou, deu-lhe um abraço tão normal que ela ficou sem saber o que tinha feito com aqueles três anos de silêncio e lágrimas.

Ainda perplexa, correu para o outro lado do balcão da cozinha e fez qualquer coisa que ela sabia que ele ia gostar. Deu certo, a conversa passou a ter gosto de molho rosê, e ele gostou tanto que ela precisou fazer um pouco mais. Estranhamente, ele tinha entendido tudo, ela também. Sem os tais questionamentos para os quais ela tinha se preparado tanto, ela jogou a armadura fora junto com a embalagem do creme de leite.

Naquele dia, ela chegou em casa e se perguntou para onde ela tinha viajado, porque aquela situação sem turbulências e tanto assunto só podia ser resultante de um retorno de algum lugar. E, claro, chorou bastante por eles serem dois teimosos que não tinham comprado o bilhete de volta antes.

Depois disso, passou-se ao melhor de tudo: a redescoberta. O perfume misturado com cigarro era o mesmo, assim como o gosto musical. As histórias repetidas ganharam uma musicalidade nova. Ela se encontrou com ela mesma, aquela de dez, vinte anos atrás. E ela descobriu que eles, espantosa e geneticamente, ainda eram os mesmos de sempre.

Só um pouco menos orgulhosos.

*

Que eu cansei da nossa fuga
Já não vejo motivos
Pra um amor de tantas rugas
Não ter o seu lugar
(Conversa de Botas Batidas, Los Hermanos)

2 comentários:

Andrey Brugger disse...

Arrepiei.

Muito bom mesmo! :)

Expressivas Impressões disse...

Ô de casa! Posso entrar?? Valeu pela visita. A-do-rei!!

.. eu falando de dar o braço a torcer e você falando de orgulho.. pegamos o mesmo bonde, ahhhh e nada como fazer as pazes né!?!?

Pode ir preparando o cafezinho que eu volto dia desses. Aquele abraço!

:D Pri :P