domingo, 15 de março de 2009

Hábitos Documentados

Estava eu assistindo ao meu vício dos inícios de ano –Big Brother, quando Pedro Bial fez a pergunta que me calou: do que vocês sentem mais falta (não valendo falar em família e amigos)?

Limitados que só (talvez seja essa a graça do reality show: curar o nosso complexo de inferioridade, mostrando gente-mais-tosca-que-a-gente), eles responderam coisas bem repetidas, tipo Internet. E, como eu adoro essas coisas, já estava me imaginando no lugar deles para responder a pergunta.

As pequenas liberdades da vida são as que mais fazem falta. A liberdade de ir à padaria na hora em que se bem entende, e escolher um pão mais moreno; de olhar vitrines, ainda que sem comprar nada; de escolher a hora de dormir, acordar e tomar banho; de ir ao cinema sozinha, para ver o filme que ninguém mais quer assistir; para falar ao telefone, ouvir música na maior altura ou pegar um ônibus atrasadíssima só porque encontrei um conhecido na rua.

Permanentemente observados, os brothers perdem a oportunidade de viver em off, que é onde as melhores coisas acontecem. A menos que se seja alguém bastante exibicionista ou cafona, não se é pedido em casamento em rede nacional. E aí mora o outro ponto que mais prende os espectadores do programa: a coragem de pagar um preço tão alto por dinheiro...ou só por promoção, mesmo.

Junto a tudo isso, lembrei de um texto da Martha Medeiros (“Capturados”), que falava sobre a necessidade de documentar tudo que ela observava ao redor: "Me pergunto: se você não documentar suas experiências e emoções, elas deixam de existir? Você deixa de existir? Não deveria, mas dá a impressão que sim."

Os Big Brothers vivem o oposto disso: na sua superexposição, o que ganha mais valor é aquilo que não pode ser documentado.

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