quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Os Últimos Dias

Não vejo glamour algum no fim do ano. Chuva, caos, milhares de compromissos, amigos ocultos, ansiedades vãs, simbolismos esquecidos e a tentativa de parecer normal em meio a várias sacolas. Acho que todo mundo fica um pouco mais doido nos fins de ano.

No Brasil, das duas, uma: ou faz um calor dos infernos, com direito a chuvas de verão que estragam tudo e deixam as pessoas meio perdidas, ou faz um frio nublado atípico que provoca reclamações do tipo "assim não posso usar meu vestido novo". E tome criatividade e jogo de cintura para rebater as horas que parecem encolher nessa época.

Mesmo não gostando muito do Natal (acho penosamente triste e decadente, vai entender), eu sempre vejo o caos instalado como algo meio simbólico: antes de renascer para alguma coisa, temos a tendência de nos perder, de não saber o que fazer, parecendo baratas tontas. Depois, um tempo de quietude: a tal "semana de ressaca" entre Natal e Reveillon. E, por último, a consumação da mudança: mais um ano deixado para trás.

Enfim, desejo a todos que não se percam num mar de compromissos e compras no final deste 2008, e que parem para pensar...

O último dia do ano

Não é o último dia do tempo.

Outros dias virão

E novas coxas e ventres te comunicarão o calor da vida.

Beijarás bocas, rasgarás papéis, farás viagens e tantas celebrações

de aniversário, formatura, promoção,glória, doce morte com sinfonia e coral,

que o tempo ficará repleto e não ouvirás o clamor,

os irreparáveis uivos

do lobo, na solidão.

("Passagem do Ano",
Carlos Drummond de Andrade)

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