terça-feira, 18 de novembro de 2008

Coletivos

Eu tenho mania de observar as pessoas no ônibus. Aquele ato rotineiro de usar a condução pode revelar muito sobre as pessoas...mas, às vezes, eu me decepciono um bocado com a maneira que elas podem ser ardilosas. Isso aconteceu nessa semana, por duas vezes.

Na primeira situação, eram umas 7h da manhã e eu reparei que uma mulher (particularmente, bem feia) conversava intimamente com o trocador, provavelmente pensando que ninguém reparava. Ela ria dele, e os dois combinavam alguma coisa para o fim de semana. Num olhar de relance, reparei a aliança brilhando na mão esquerda dele: para ele, aquilo parecia indiferente, assim como a mulher risonha na frente dele. Ela falava sobre a mulher dele de um jeito vulgar “você pensa que eu nunca fui até a sua casa? Eu sei como ela é, a Ana”...o mais curioso é que as duas tinham o mesmo nome, e a cada vez que ela dava uma gargalhada, eu tinha a impressão de que o cara a desprezava um pouco mais.

Desci do ônibus pensando nas duas Anas, e senti pena de ambas. Da primeira pela vida escondida do marido, pelos dias em que ela esperou por ele e ele não apareceu, pela desconfiança que deve viver semeada nela. Da segunda pela sua sensação falsa de ser amada, pela sua alegria infantil que faz com que ela perca a sua juventude com alguém que só a quer pelo gosto do proibido, pelo seu amor-próprio cego que não a deixou perceber o desprezo do amante, também apaixonado por ele mesmo.

Passados uns dois dias, eu descia da Universidade quando uma menina sentou na minha direção. Ela chorava copiosamente, e me deu uma curiosidade absurda de perguntá-la o que estava acontecendo, se eu podia ajudar, sabe-se lá. No ponto seguinte, subiu uma mulher, que parecia ser alguma tia dela, pela semelhança física. Quando ela viu a menina, sentou-se ao lado dela, perguntou o que estava havendo. Ela tinha sido dispensada pelo noivo. Ao invés de ajudá-la ou consolá-la, a mulher falou um caminhão de asneiras, aos gritos. Pelo que eu consegui entender, ela achava que a garota precisava se casar com o cara pelo dinheiro que ele tinha, e nem se importava com o fato de ele nem gostar mais dela. O importante era o golpe do baú, e, por isso, achava a sobrinha uma incompetente, com todas as letras bem gritadas.

Desci do ônibus antes do ponto.

Um comentário:

Anônimo disse...

Também passo por coisas interessantes quando faço uso do transporte público!!!
Nada como observar...srsrsrs
Saudades...adorei o texto=)
Beijos!!