domingo, 2 de novembro de 2008

Mesmo que Acabe

Algumas coisas vivem em nós como uma cicatriz: por mais que seja feia ou dolorida, ajudou a moldar aquilo que somos no presente. Essas marcas vivem na alma como algo que pode ser esquecido no cotidiano: mas, a qualquer momento, quando você pensa que elas sumiram, lá vem uma dorzinha chata, como aquelas que afligem as cicatrizes físicas na mudança de tempo (quem nunca ouviu falar de um joelho que dói quando vai chover?).
Já foi dito aqui, pela Maria, que o problema que todos queremos nos sentir indispensáveis. E que lutem por nós, mesmo que desprezemos essa luta. Que nos queiram, mesmo que não queiramos. Que, se não nos amam, que nos odeiem de um ódio profundo e lento. Mas não é bem assim que as coisas funcionam. A intimidade, quando cessa, dá lugar (geralmente) a um conhecimento vago que se dissipa no tempo, até que aquela se torne mais uma história, das que se conta nas rodas de bar: "uma vez eu briguei com uma amiga..." ou "eu tive um namorado que...". Para a gente, é melhor assim, mas sempre existe um desejo secreto que faz com que desejemos que seja pior para o outro, e que, de preferência, ele sofra muito.
Porque, na verdade, somos todos um pouco cruéis. Porém, desumanidades à parte (ou isso seria humanidade em demasia?), tocamos a vida como quem prefere que as coisas sejam realmente assim, e todos seriam felizes para sempre sem as lembranças infelizes, que vêm como uma onda inesperada, numa terça de sol, com uma música qualquer, uma gíria esquecida ou uma notícia desavisada.
O bom disso tudo é que assim podemos lembrar das coisas que fizemos de errado, das neuroses superadas com auto-disciplina massacrante, das dores pretéritas. E é só assim que podemos evoluir, com quelóides que nenhuma cirurgia pode remover.

2 comentários:

Maria Clara Freitas disse...

Meu Deus! Ironia do destino ou não, você escreveu esse texto no momento exato. Total estou "passando" por algo assim....coincidencia? talvez....enfim tenho novidades - muito boas!Bjks

Stela Tannure disse...

Maria!

Eu estou aqui tentando loucamente escrever um e-mail p a senhora sumida,mas TODOS voltam com erro.

Novidades mil, correrias absurdas...mas anda tudo bem do meu jeito, ou seja: BOM DEMAIS, ainda que muito cansativo.

Por favor, me escreva...quem sabe respondendo eu consigo te enviar alguma coisa?

Saudades horrorosas e curiosidade lancinante pelas suas boas notícias!