segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Calos de Escrever

Adoro letra cursiva porque me parece particular, revelador, quase romântico (a minha, pelo menos, é cheia de voltas e “firulas”). Deve ser por isso que eu gosto de cartas e cartões manuscritos. Ainda que eu me renda às tecnologias do mundo e escreva muito pelo computador (por pura comodidade), eu fico com olhos brilhando quando escrevo à caneta ou recebo alguma coisa marcada pela letra de quem eu gosto.

Quem me lê sempre já pôde perceber que eu sou meio antiquada para várias coisas, e a preferência pela escrita à tinta é só mais uma delas. Talvez seja porque, desde criança, eu seja apaixonada pela letra do meu avô, que mais parece daquelas de convite de casamento, tombadinha para a frente, cerimoniosa. A da minha mãe é pequena e esparramada, como a voz de alguém que fala baixo. A do meu tio é ininteligível, como a timidez de quem quer passar despercebido. Tive um namorado que tinha uma letra tão grande quanto seu ego. Enfim, acredito em exames grafológicos, sem medo de enganos.

Quase sempre escrevo os textos do blog em folhas soltas de caderno. As idéias parecem fluir melhor...escrevo na velocidade do pensamento, rabiscando todo o papel, fazendo mil setinhas e rasuras, trocando a ordem dos parágrafos: no fim, é uma bagunça que só eu entendo, mas fica personalíssimo. E eu adoro olhar p aquela folha e encontrar minha letra cobrindo-a toda –pode soar idiota, mas passa uma sensação de produtividade muito curiosa.

Escrevi tudo isso (à mão, é claro) para relatar o prazer redescoberto de escrever cartas, sem motivo aparente. E tão ridículas quanto as que Fernando Pessoa desdenhou, mas admitiu o ridículo de quem não as escreve...

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