domingo, 31 de agosto de 2008

Água e Sal

Há tempos tenho tentado alinhavar um texto sobre o choro, ação que humaniza e revela tanto sobre a nossa natureza sentimental. Tudo que eu escrevo soa excessivamente confessional, quase piegas.


Tem gente que acha que choro é uma breguice. Julgam-no manifestação de uma fraqueza vergonhosa, que deveria permanecer escondida em algum nó da garganta. Discordo com veemência dessa gente que se engasga, mas não grita.


Quem contém o choro guarda dentro de si a mágoa, a tristeza, a angústia, o cansaço, e isso são só os sentimentos negativos; quem não chora perde a chance de externar com decência o orgulho, a sensação de dever cumprido, a alegria pura e simples. Quem segura tanta coisa deixa de crescer com essas emoções, e um dia a vida cobra de volta tanta oportunidade jogada fora.


Eu não sou emo, mas choro mesmo. Em particular ou em público, despacho minhas lágrimas de acordo com a minha necessidade. Já chorei mais do que choro hoje, ainda que eu tenha no presente mais problemas do que tive anteriormente. Mas ainda me permito ficar com os olhos rasos d’água, e sou grata à minha visão sensível de mundo: ela pode não enxergar tudo, mas tem horizontes extensos.


Porque tem que ser muito gente para chorar.


***

Vem, soleníssima,

Soleníssima e cheia

De uma oculta vontade de soluçar,

Talvez porque a alma é grande e vida pequena,

E todos os gestos não saem do nosso corpo

E só alcançamos onde o nosso braço chega,

E só vemos onde chega nosso olhar.

(Álvaro de Campos- heterônimo de Fernando Pessoa)


***

Peço desculpas pelo estado de semi-abandono que eu tenho deixado o blog. A vida de estudante desperiodizada, dona-de-casa, filha saudosa da casa e namorada (sim,namorada!) não tem me deixado muito tempo para escrever. Mas acertarei meus ponteiros com a escrita...

:)

2 comentários:

Isa = ) disse...

Só p registrar a presença..rs

bj.

= )

Anônimo disse...

Porque tem que ser muito gente para chorar. [2]