quarta-feira, 16 de julho de 2008

Pousos

Nessa semana li "Tudo que eu queria te dizer", livro de cartas criadas pela genial Martha Medeiros. Entre tantas histórias fascinantes (e tão realistas...), um parágrafo me chamou a atenção, porque compartilho do sentimento.
Uma amiga escrevia para a outra, e a destinatária morava em Veneza. A autora da missiva falava sobre a dificuldade de conceber uma rotina, com diarista, manicure e compromissos, numa cidade tão mágica.
Duas das minhas melhores amigas moram em lugares cinematográficos, e eu já tive a oportunidade de abusar da hospitalidade delas, entrando pela porta da frente da rotina. Maria (a "comparsa" deste blog) mora no Rio, em casa que revela a Lagoa ofuscante a cada olhar pela janela. E Bella tem como vista Museu Imperial e todo aquele ar europeu que só se encontra em Petrópolis.
No primeiro caso, penso muito em como os cariocas passam impunemente por tanta beleza que chega a me fazer sentir menor. Fazer supermercado, estudar, fazer uma faxina no apartamento sem se distrair com tantas nuances de cor nas águas, tantas sombras que fazem do Cristo vista nova a cada dia.
Na Cidade Imperial, a coisa é ainda mais diferente. Como morar num lugar com o sol de inverno mais lindo que eu conheço? Uma ida ao caixa eletrônico revela um vitral, uma caminhada tem várias coisas lindas pelo caminho. Gótico, neoclássico, enxaimel. Tudo parece milimetricamente pensado para ser charmoso.
Dizem que o turista vê tudo mais bonito, e que essa é a graça do passeio: não estar todo dia ali, o que "esvazia" a beleza dos lugares. Quando eu morava em Niterói, literalmente viajava quando passava na Ponte. Passava um tempo considerável sentada no MAC, desenhando. E simplesmente não me enquadrava naquela vida de passar blasé por tanta beleza. Será que eu fui sempre turista por lá?

3 comentários:

Maria Clara Freitas disse...

Essa história de ser turista e complicada! Sei lá ainda acho o Rio lindo, ainda passo um tempinho olhando a lagoa da sacada.... Mas sinceramente na correria do dia-a-dia essas coisas passam a ser momentaneamente ignoradas. è quase um luxo que dentro da sua falta de luxo cotidiana, não cabe.... Sei lá é esquisito msmo... Adorei o texto! Otemo nega...

Anônimo disse...

Petrópolis e Rio são, com certeza, duas das cidades que eu mais visito e gosto.
Sendo bem sincera, Petrópolis caiu um pouco na rotina pra mim, porque eram sempre os mesmos programas [ou seja, comer, comer, comer; típico programa do meu pai]. Mas agora já faz um certo tempo que eu não vou e tenho certeza que será maravilhoso voltar nessa cidade que eu gosto tanto!
Se você pensar, até a ida do Rio para Petrópolis é linda. Aquela estrada com o corredor de Mata Atlântica é a mais bonita que já vi.

Anônimo disse...

Bom, então eu sou um turista na minha própria cidade! Pq cada vez que vou ao Botafogo Praia Shopping, e eu vou lá quase todos os dias, eu fico pasmo, admirando a beleza da enseada com o Pão-de-Açúcar ao fundo...
Bjos!